Usina de Pautas

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"Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena!!!” – Mário Quintana -------------------------------- “Quando crescer quero ser exatamente igual ao que era quando criança: eu mesmo”. (Eu) Marcelo Santos é jornalista e trabalha como repórter. Pretende no futuro ser escritor,roteirista, poeta, biógrafo. Também esposo, pai, filho, irmão, neto, sobrinho e amigo de muita gente.

sexta-feira, abril 25, 2008

Amanheci mais velho


Ontem amanheci mais velho. Deixei os 20 para estrear nos 30. Engraçado é que não me sinto muito diferente. Aliás, revendo alguns vídeos antigos, continuo me sentindo como um garoto de 13 anos.

Minhas principais dúvidas sobre a vida ainda permanecem. Continuo gostando de coisas que gostava na época e, mesmo mais pesado e mais velho, me sinto disposto para uma partida de futebol, umas braçadas na piscina ou até mesmo uma corrida. Pena que se sentir disposto não significa ter vigor.

Mas, algumas coisas eu aprendi. Principalmente nesses últimos anos. Aprendi que na vida eu preciso de amigos. Amigos de verdade, destes que a gente pode abrir o coração e contar nossas piores verdades, nossas fragilidades. Preciso de gente do meu lado e preciso estar ao lado de gente, exercendo minha humanidade. Chorar e rir junto. Compartilhando e sendo sincero, sem máscaras. Aprendi a valorizar isso e a desejar isso do próximo.

Aprendi que preciso de mentores. De mestres que me ajudem a enxergar onde não consigo ver nada. Que iluminem o caminho. Mestres que morem perto de mim, que possam estar comigo através de um telefonema ou através das páginas dos livros. Preciso de exemplos vivos de que é possível, sim, uma vida digna, honesta, amável e solidária. Preciso desses heróis de verdade.

Aprendi que os mais velhos sabem mais sobre a vida e que merecem ser ouvidos e respeitados. Da mesma forma, descobri que já possuo a responsabilidade de ser um exemplo para os mais novos. De ser referência para quem está começando seus passos.

Aprendi que família é expressão da Graça de Deus. Que viver em paz, no lar, é melhor do que barras de ouro ou sucesso. Que é possível, sim, melhorar e aperfeiçoar.

Aprendi também que gentileza, bondade e doçura é um dever de todo aquele que se chama cristão.

Tenho descoberto que a felicidade não está lá, mas sim aqui. Que não preciso “ter”, “ser” ou “chegar até lá” para ser feliz.

Descobri que preciso aprender a ser mais tolerante. Que preciso deixar de mentir, mesmo quando me sinto encurralado.

Aprendi que dizer “não” faz um bem danado. Que há sabedoria nas pessoas simples e que chorar ou dar gargalhadas é o maior barato.

Aprendi que preciso conhecer meus limites e identificar minhas fraquezas. Que, como no exemplo bíblico do rei Davi, quando eu for confrontado com minha maldade e mazelas, devo ter humildade para reconhecê-las e admiti-las dentro de mim.

Aprendi que não posso viver sem fé. E que minha fé não precisa ser a melhor, a mais certa, a inerrável. Aprendi que duvidar é uma virtude. Que a fé só é válida se conquistar meu coração e minha mente.

Aprendi que tudo passa rápido demais. Como um tiro, um som estridente que logo não existe mais. Aprendi a ser grato por viver até agora. E que a vida é bonita, é bonita e é bonita.

terça-feira, abril 15, 2008

“Morre, em nome de Jesus!”




Minha cabeça anda queimando com toda turba decorrente do assassinato da pequena Isabella Nardoni.

Pela manhã, o noticiário atualiza as velhas-novas informações. Das suspeitas que, numa matemática indecifrável, apontavam para 99% do caso resolvido, para hipóteses de outros suspeitos. Mas, o que mais me preocupa mesmo é ver o grau de insanidade de nossa sociedade. Uma sociedade que se move ao calor das manchetes. Desnecessário explicar que minha tristeza se dá na reação das pessoas diante da possibilidade do pai ter matado sua pequena filha. Queremos “fazer justiça”. Queremos que o criminoso, culpado pelo bárbaro crime, padeça as dores mais sofríveis e ainda ganhe, como morada eterna, o inferno. Ou, como vociferou um zelador de 60 anos, diante do IML, quando Alexandre e Ana Jatobá faziam exames: “Morre, em nome de Jesus!”

Fico pensando onde esse homem ouviu que ele poderia usar o nome de Jesus para chancelar um desejo cruel, como a morte de alguém. Minha primeira explicação é de que o nome de Jesus não tem sido relacionado com sua essência, que é o amor. O nome de Jesus é “poderoso”, como diz a canção evangélica. O nome de Jesus é a “chave”, como afirma alguns discursos. O nome de Jesus é o caminho mais curto para o “nosso desejo”. Essa tem sido a tônica do discurso cristão. Poucos são os que dizem que o nome de Jesus é amor, Graça, perdão, pacificação e reconciliação. Daí fica fácil entender como o doce nome de Jesus pode ser usado numa expressão de intolerância e ódio.

Essas idéias entram sorrateiramente em nossas mentes e corações. E entram porque não nos permitiram usar nossa capacidade crítica. Pior, disseram que senso crítico não é uma coisa boa e que provoca contendas e divisões. Então, de tanto absorver, ficamos intoxicados. Por falta de senso crítico, consumimos qualquer conversa, qualquer idéia, por mais perniciosa que seja. Por mais egoísta, maldosa e diabólica. Duvidar não faz parte da agenda cristã. O mesmo Deus de Graça e amor pode muito bem conviver com o deus de ódio e intolerância.

Somando isso com nossa inclinação natural para olhar as maldades alheias e esquivar de encarar as nossas próprias, podemos encher nossos peitos e “profetizar”: “Morre em nome de Jesus!”.

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