Estou com medo
Na madrugada de sábado pretendo viajar para Bauru para visitar minha avó materna. Faz quase um ano que não a vejo e o que me leva lá não é exatamente a saudade: é uma grande preocupação.
Ela está internada e seu estado não é bom. Disseram-me que ela está bastante amarela e inchada; talvez problemas nos rins. Isso me faz recordar a última vez que vi meu avô paterno vivo, há pouco mais de dez anos atrás.
Meu avô era um sujeito forte e animado. Tinha 64 anos quando a doença-sem-cura que surge sem-um-porquê o pegou. Eu era adolescente e estava no primeiro ano do colégio e ria muito com ele, com seu jeito simples e afetuoso. Fazia amigos facilmente, dirigia seu fusquinha barbeirosamente…
Ele tinha umas tiradas ótimas. Meu irmão caçula era um bebê e ele brincava com ele no colo “ôôôô tico-tico-tico”. Quando ficava nervoso com nossa bagunça pela casa ele dizia: “Vocês vão bagunçar o coreto, é?” Só descobri o que era coreto depois que ele partiu. A doença-sem-cura o maltratou e, em poucos meses, ele padecia sobre um leito de hospital.
Outro dia, ao assistir um vídeo antigo dele, chorei sozinho na sala. Lembrei-me de minha última visita. Meu avô estava franzino e amarelo, mal tinha forças para falar… eu era um adolescente, mas percebi ali que dificilmente o tornaria a ver antes do reencontro com Cristo.
Estranhamente, esse é o meu medo nesta viagem rumo a Bauru. Temo em ver minha vó de um jeito diferente ao que estou acostumado. Minha avó não é tão animada quanto meu avô era; tinha seus motivos. A vida lhe foi dura, perdeu dois filhos jovens – tios que eu nunca conheci - além de outros dissabores.
Espero que ela melhore e que eu possa levar meu filho para brincar com ela nos próximos meses.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home